Voltei!
Não sei se cheguei a falar com vocês sobre um curso que fiz no comecinho do ano: Laboratório de Redação Criativa, um curso muito interessante e que vale a pena. Confesso que estava um pouco insegura quando me inscrevi, pois achava que só encontraria escritores “feras” e quando cheguei lá encontrei um grupo de pessoas com as mesmas inseguranças e dúvidas que eu tenho. O meu Letrinha Morta era meu colega de classe, aliás, foi ele que me fez o convite para o curso. Hoje, folheando meu caderno tive saudade e perdendo o medo resolvi dividir com vocês algumas das atividades.
Já postei A ordem natural anteriormente, hoje teremos Dois Mundos e um Muro. Este exercício surgiu através da proposta de observarmos a parede da sala de aula. Pensamos em um muro no mundo físico, e em outros muros em um plano abstrato, de pensamentos e símbolos. Há então algo como um muro que vem ao meu encontro e que fala. O objetivo do exercício é saber ouvir o que ele está dizendo. Existe mais do que só a pilha de tijolos, cimento e outros entulhos, algo a ser revelado.
Gente, foi brabo! Tive muita dificuldade, mas no final saiu isto:

Dois Mundos e um Muro

Há em cada um de nós uma sala silenciosa com luzes que às vezes se acendem para olhos nem sempre abertos. Há pensamentos que me carregam do silêncio para o lado de lá do muro. Há dois mundos (se é que são dois) e um muro imaginário. O lado de cá está sob constante vigilância e é bastante formal. O de lá é só encantamento. Este muro de tijolos envelhecido pelo tempo sempre esteve ali e era olhado, mas nunca o enxerguei. No ato incomum de observar suas formas e cores com total desprendimento, colei-me a ele transpondo-o.
Avistei um alegre porquinho marrom e um hipopótamo zangado, irrequietos, apressados em aproveitar a vida, e um gatinho branco dorminhoco que não aceitava o desafio, permanecendo alheio à balbúrdia, recolhido no seu canto. Uns monstros assustadores de mentirinha, feitos de areia, espalhados pelo espaço, corriam entre as pedrinhas e a terra. Tudo muito confuso, mas que importa se o que vejo é liberdade? Aqueles bichinhos têm vontade própria e gostam de uma bela bagunça. Aqui não há relógios e mesmo assim o tempo passou. Em meio à terra e tijolos, tudo foi se misturando, ficando turvo e os olhos que vagavam retomaram, pouco a pouco, seu lugar do lado certo do muro. Lá no lado incerto, nossos animaizinhos permaneceram aprisionados. Seu destino não sabemos.
A sala silenciosa se fechou. Amanhã outras luzes se acenderão. Outras brincadeiras, outros animaizinhos, outros muros...

(Escrito por Deanna)

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