Cegueira dupla
Ontem quis postar as reflexões que virão, mas não consegui e vocês verão o porquê, meus queridos leitores escassos.
Domingo foi um dia de descobertas. Na missa pela manhã refleti que precisava perdoar alguém que havia me magoado profundamente na quarta-feira. Quando estou com raiva prefiro chorar em casa e confesso que chorei bastante. Acabando meu estoque de lágrimas, comecei a racionalizar e a raciocinar melhor, mas ainda não estava preparada para falar com a pessoa. Quando o padre falou sobre a tal "faxina interior" e na preparação para o Natal, senti: É comigo! Percebi que deveria pensar mais no profissional e que não deveria levar a questão para o lado pessoal.
Voltando para casa vi o homem que vende doces e ovos na barraca e avisei que voltaria para comprar ovos, porém antes daria uma passadinha rápida em casa.Pois bem, enquanto ele entrou para pegar os chocolates na geladeira (ah! comprei batons, pois sou "tarada" por estes chocolates), fiquei conversando com a esposa dele. Engraçado como sempre passei perto deles e não os enxergava porque passava constantemente tão rápido descendo ou subindo a rua. No domingo foi diferente e nos conhecemos. Lúcia é seu nome e ela é tão bonita... Seus olhos são claros, caminhando para um verde e tão expressivos, seu falar é tão tranqüilo e ela não parece sentir o tempo passar. Contou-me sua história: Ficou cega há onze anos por causa da diabetes, tem um marca-passo no peito e sério problema nos rins e faz hemodiálise toda semana. Luta pela recuperação da saúde e já consegue ajudar o marido, uma vez que antes precisava ir lá para o Hospital do Fundão e agora conseguiu tratamento aqui perto. Perguntei sobre seus estudos e ela disse que adoraria voltar a estudar, quer continuar a 7ªsérie e descobriu uma escola que vai ensiná-la a ler em braile. Lúcia tem recebido um apoio enorme da psicóloga para resgatar sua auto-estima. Contou-me com enorme satisfação que ninguém descasca legumes melhor do que ela em sua casa, mas em risos adverte: "Só não me dêem faca cega!" Apesar de aparentemente jovem, já tem uma filha, se não me engano, duas e pelas suas palavras pareceu-me não receber muita atenção dela.Ela engravidou cedo e me disse o quanto foi cobrada pela gravidez precoce, sendo obrigada a parar com os estudos. Voltei para casa e pensei:Como não enxerguei? Talvez o cotidiano nos embote a visão e a gente passe a se importar com pessoas e coisas sem muita relevância e concluí: Vou resolver a questão de quarta-feira para finalizar aquela história.
Comecei a me sentir tão mal ( calma , pessoal, não foi o encontro não, é que comecei a sentir cólicas pavorosas e resolvi me deitar, atrasei meu almoço, mas como estava só...Ao levantar, fui para a cozinha limpar uma carne e foi então que a coisa começou a esquentar, ou melhor, a esfriar.Começou aquela terrível tempestade que quase carrega o Rio e para o meu desespero começaram as goteiras na casa: chovia no quarto sobre os travesseiros, sobre a mesa de cabeceira, chovia no quarto de estudos sobre os livros, os papéis, as roupas para passar e por pouco não chega no computador... A cozinha também sofreu um pouco com a ira da dona chuva e o quintal começou a encher. Desesperadamente comecei a cobrir tudo com plásticos e não sabia para que lado correr ( optei pelos livros). E a dor que não passava, e o estômago que doía e o medo dos raios, lembram do post anterior? Que domingo danado da gota! E começara tão bem...Liguei para o marido e ele me acalmou. Novamente a visão embaçada: De uma casa com mais de trinta anos e de forro já velho, o que esperar, não é mesmo, caro leitor? Saldo final: Tudo protegido e terra para todos os cantos da casa!
Decidi que não limparia nada naquela noite e ontem trabalhei pra burro, mas valeu a pena. Valeu começar a enxergar a vida, a realidade e perceber que , às vezes, não é tão áspera como acreditamos ser.Existem outras, meus fiéis leitores, muito piores.
Domingo foi um dia de descobertas. Na missa pela manhã refleti que precisava perdoar alguém que havia me magoado profundamente na quarta-feira. Quando estou com raiva prefiro chorar em casa e confesso que chorei bastante. Acabando meu estoque de lágrimas, comecei a racionalizar e a raciocinar melhor, mas ainda não estava preparada para falar com a pessoa. Quando o padre falou sobre a tal "faxina interior" e na preparação para o Natal, senti: É comigo! Percebi que deveria pensar mais no profissional e que não deveria levar a questão para o lado pessoal.
Voltando para casa vi o homem que vende doces e ovos na barraca e avisei que voltaria para comprar ovos, porém antes daria uma passadinha rápida em casa.Pois bem, enquanto ele entrou para pegar os chocolates na geladeira (ah! comprei batons, pois sou "tarada" por estes chocolates), fiquei conversando com a esposa dele. Engraçado como sempre passei perto deles e não os enxergava porque passava constantemente tão rápido descendo ou subindo a rua. No domingo foi diferente e nos conhecemos. Lúcia é seu nome e ela é tão bonita... Seus olhos são claros, caminhando para um verde e tão expressivos, seu falar é tão tranqüilo e ela não parece sentir o tempo passar. Contou-me sua história: Ficou cega há onze anos por causa da diabetes, tem um marca-passo no peito e sério problema nos rins e faz hemodiálise toda semana. Luta pela recuperação da saúde e já consegue ajudar o marido, uma vez que antes precisava ir lá para o Hospital do Fundão e agora conseguiu tratamento aqui perto. Perguntei sobre seus estudos e ela disse que adoraria voltar a estudar, quer continuar a 7ªsérie e descobriu uma escola que vai ensiná-la a ler em braile. Lúcia tem recebido um apoio enorme da psicóloga para resgatar sua auto-estima. Contou-me com enorme satisfação que ninguém descasca legumes melhor do que ela em sua casa, mas em risos adverte: "Só não me dêem faca cega!" Apesar de aparentemente jovem, já tem uma filha, se não me engano, duas e pelas suas palavras pareceu-me não receber muita atenção dela.Ela engravidou cedo e me disse o quanto foi cobrada pela gravidez precoce, sendo obrigada a parar com os estudos. Voltei para casa e pensei:Como não enxerguei? Talvez o cotidiano nos embote a visão e a gente passe a se importar com pessoas e coisas sem muita relevância e concluí: Vou resolver a questão de quarta-feira para finalizar aquela história.
Comecei a me sentir tão mal ( calma , pessoal, não foi o encontro não, é que comecei a sentir cólicas pavorosas e resolvi me deitar, atrasei meu almoço, mas como estava só...Ao levantar, fui para a cozinha limpar uma carne e foi então que a coisa começou a esquentar, ou melhor, a esfriar.Começou aquela terrível tempestade que quase carrega o Rio e para o meu desespero começaram as goteiras na casa: chovia no quarto sobre os travesseiros, sobre a mesa de cabeceira, chovia no quarto de estudos sobre os livros, os papéis, as roupas para passar e por pouco não chega no computador... A cozinha também sofreu um pouco com a ira da dona chuva e o quintal começou a encher. Desesperadamente comecei a cobrir tudo com plásticos e não sabia para que lado correr ( optei pelos livros). E a dor que não passava, e o estômago que doía e o medo dos raios, lembram do post anterior? Que domingo danado da gota! E começara tão bem...Liguei para o marido e ele me acalmou. Novamente a visão embaçada: De uma casa com mais de trinta anos e de forro já velho, o que esperar, não é mesmo, caro leitor? Saldo final: Tudo protegido e terra para todos os cantos da casa!
Decidi que não limparia nada naquela noite e ontem trabalhei pra burro, mas valeu a pena. Valeu começar a enxergar a vida, a realidade e perceber que , às vezes, não é tão áspera como acreditamos ser.Existem outras, meus fiéis leitores, muito piores.
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